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Três anos no Brasil, livro do padre belga Thomas Schoenaers de 1904

Livro Drie jaar in Brazilië van pater Thomas SchoenaersPadre Thomas Aquino Schoenaers nasceu em 18 de março de 1872, em Helchteren na Bélgica, com o nome de batismo de Gerardus Jozef Schoenaers e ingressou na ordem premonstratense em 1891, ordenando-se em 1897. Tendo assumido sob sua responsabilidade a tipografia da ordem, na Abadia de Averbode, editou o jornal O Mensageiro. Ele esteve no sul do Brasil entre os anso 1901 e 1904. Trabalhou como professor em Jaguarão (RS) e escreveu sobre sua experiência o livro Drie jaren in Brazilië (1904, Averbode) que só 99 anos depois foi publicado no Brasil com título Três anos no Brasil (Pelotas: EDUCAT, 2003). Numa segunda viagem, em Petrópolis, no Colégio São Vicente de Paulo, exerceu o cargo de reitor do estabelecimento. No início da Primeira Guerra seguiu para seu país, servindo como capelão militar durante a guerra e recebendo a Cruz do Mérito Militar, por sua atuação. Morreu em novembro de 1919, de câncer, tendo sido enterrado na Abadia de Averbode.

O livro Três anos no Brasil é composto por 59 cartas, escritas ao sabor dos acontecimentos e enviadas para a Abadia na Bélgica, sendo ali publicadas regularmente no jornal O Mensageiro. Os objetivos do padre Thomas não eram apenas de descrever e compartilhar com seus conterrâneos e outros religiosos as narrações sobre uma terra desconhecida, no entanto, também de conseguir apoio da comunidade católica belga para a vinda de mais padres e a remessa de recursos para as obras no Brasil. Desta forma, ao seu olhar de estrangeiro e militante católico, deve-se acrescentar também aquele do propagandista das missões belgas em terras brasileiras, com o intuito de demonstrar sua importância e a necessidade da continuação de tal obra. 

Thomas Schoenaers Três anos no BrasilEm sua narrativa, comenta fatos significativos sobre a cultura, hábitos, educação e transportes no estado gaúcho. Fascinado pela fauna, geologia e geografia, deixou boas descrições da região da campanha gaúcha, bem como uma visão critica sobre os negros e as relações interraciais na região, no início do século XX

Chegando no início do século XX, o padre Thomas deixou descrições muito vivas do país, especialmente do cotidiano e dos costumes da região dos pampas gaúchos, ao olhar cuidadosamente o novo. Sua importância reside em que, na condição de padre, estava particularmente interessado na difusão da religião e da educação, e com isso deixou primorosas leituras dos costumes da região da fronteira sul, comumente não privilegiada nos relatos de viajantes. É claro que sua escrita não é isenta, como nenhuma o é. Suas informações, muitas vezes recheadas de exotismo, pretendiam fazer com que bons cristãos continuassem enviando dinheiro para obras caridosas no além mar.

Vindo apenas uma década depois de vários acontecimentos particularmente marcantes, como a abolição, a proclamação da república e os conflitos republicanos que ensanguentaram o estado, suas observações são também reveladoras sobre as mudanças do período. Fornece, dessa forma, um bom panorama das tensões entre os vários setores políticos e sociais no Rio Grande do Sul naqueles anos, interessando, ainda, à economia seus escritos. De mais a mais, procura descrever, a seu modo, cada uma das cidades pelas quais passou, dentro de sua óptica particular de cidadão europeu, de uma região com pouco contato com os trópicos.  Por tudo isso, seu livro, ainda não explorado, é uma fonte preciosa para os historiadores atuais.

Padre Schoenaers foi também um bom fotógrafo e algumas de suas fotos de gauchos, indíos, estudantes e paisagens, foram reproduzidas no seu livro.

Fontes:

 

Português, Brasil