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De Wilde Laurent

De Wilde Laurent
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Nosso compatriota belga, Laurent De Wilde, desempenhou um papel importante na cena artística do Rio de Janeiro no final da segunda metade do século XIX

Ainda há muito a ser descoberto sobre ele. Não sabemos onde e quando nasceu, onde se formou, quando migrou para o Brasil e a razão, se migrou sozinho ou com a família, e mesmo não sabemos quando e onde faleceu.  

Os fatos que descobrimos sobre Laurent, todos achados no Brasil, mostram que vale a pena já compartilhar os mesmos e continuar pesquisando.  

Os relatórios da Société belge de bienfaisance (Sociedade Belga de Beneficência), uma das mais antigas sociedades de beneficência no Rio de Janeiro, fundada em 1852, mostram que L. De Wilde se associou em 1876. De 1883 até 1891 ele ocupou o cargo de tesoureiro da sociedade.  

Segundo o site do FamilySearch, no dia 20 de maio de 1919 faleceu a sra. Louise Laurent de Wilde, viúva de Laurent Napoleon de Wilde. Os pais da Louise eram Pedro e Margarida Guncina Lasat. Louise nasceu no ano estimado de 1849 e faleceu no Hospital da Nossa Senhora da Saúde no Rio de Janeiro. Na certidão consta que não deixou filhos e foi enterrado no cemitério de São João Baptista. Não há registros no mesmo site de Laurent, nem dos pais da Louise. 

Achamos bastante registros sobre a atividade profissional de Laurent De Wilde. Ele era dono da “Casa Especial de L. de Wilde”. Anunciava, seu estabelecimento e os serviços que prestava, no Almanak Laemmert entre os “Pintores scenographicos e de decoração”; os “Pintores decoradores e forradores de papel”; e os comerciante de “Tintas em pó preparadas, objectos para pintores, desenhistas, etc.” 

Propaganda Casa De WildeUm cartão de publicidade menciona que a casa oferece um “Sortimento sem igual de artigos para Pintores, Douradores, Engenheiros, Architectos, Dezenhistas, Gravadores, Aquarelistas, Lithographos e Xilographos. Locação de Cavalletes e Manequins. Compra e venda de quadros a óleo e a aquarella e objectos artísticos. Execução perfeita de todo e qualquer trabalho de Pintura ou Dezenho quer artistico, quer industrial. Confecção ou restauração de molduras douradas e reentéliação de quadros a oleo.” A casa ficou no centro da então capital do Brasil, em 100 e 102 na Rua 7 de Setembro, Rio de Janeiro, e era frequentada pelos pintores e artistas do Século XIX.  

No mesmo espaço De Wilde construiu uma galeria de arte usada por artistas que não tinham um lugar onde pudessem expor convenientemente os seus trabalhos. Segundo França Júnior, “As duas casas da rua do Ouvidor que se prestam a esse mister, não satisfazem as condições exigidas. Faltam-lhes a luz e o espaço. A luz é a vida dos quadros; um quadro sem luz é um pulmão sem ar. Pois bem, essa lacuna acaba de ser preenchida pelo Sr. de Wilde. Em sua loja de artigos de pintura e desenho à rua Sete de Setembro, n. 102, ele acaba de abrir um salão especial para exposições de obras de arte. O salão é um quadrilongo, que ocupa parte do pavimento superior da casa. A luz que o ilumina vem de cima e é modificada por um abajur. Ela distribui-se igualmente por todos os quadros ali expostos. Um vizinho não terá o direito de queixar-se do outro, como aconteceu na última exposição da Academia das Belas Artes, em que algumas telas brilhavam à custa do sacrifício de outras.” França Júnior destacou os principais artistas que estavam apresentando seus quadros no local: Driendl, Grimm, Castagneto, Vasquez e Caron, entre outros, divulgando, em especial, o trabalho de pintores ligados ao chamado Grupo Grimm e procurando incentivar o público a adquirir algumas obras. Várias obras expostas no Salão De Wilde obtiveram grande destaque na imprensa. Entre outros, o jornalista Artur Azevedo comentou muitas dessas exposições individuais na sua coluna De Palanque do jornal Diário de Notícias.  

Laurent De Wilde consta como sócio efetivo da Sociedade Propagadora de Belas Artes, conforme informado no jornal A Folha Nova, de 1883. 

Na Revista Illustrada, (Rio de Janeiro, 1883, ano VIII, n. 347, p. 7) o jornalista X lhe descreveu assim:

“... um homem de altura regular, gordo, com olhos tão pequeninos que não se lhe vê a cor; são, porém, vivos; um nariz em feitio de batata a desafiar os telhados, bem plantado no meio de uma cara cheia, redonda, franca e de um colorido muito aproximado entre a cenoura e a abóbora. A cor do seu cabelo, cortado quase à escovinha, é a dos mesmos legumes acima, porém metidos em sombra. Enfim um verdadeiro tipo flamengo e digno de desafiar o pincel de um Rembrandt. Duplamente flamengo até, pois que também o é de nacionalidade, o que não asseveraria se se tratasse de algum queijo da mesma procedência, apesar dos tratados de comercio para garantir as trade mark. 
Os artistas e amadores desta corte e arrabaldes verão logo, ao lerem estas linhas acima, que se trata do Dewilde, em cuja casa eles encontram tudo quanto precisam para os seus desenhos ou garatujas, pinturas ou borradelas.
O De Wilde é quase colega; ele também pinta, porém é com pincéis grandes; e em logar de ser tela, é geralmente em madeira ou em paredes; mas enfim pinta; não se pode dizer que ele seja estranho a arte. Pelo contrário, posso até garantir que ele é um grande propagador dela. Por sua vontade, ele desejaria que metade da população do Rio de Janeiro pintasse e não toda, a fim que a segunda metade comprasse os quadros da primeira." 

De Wilde LaurentDe Wilde auxiliou também artistas que realizavam estágios no exterior e que enviavam estudos para serem comercializados no Brasil, como Caron e Vasquez. 

Foi Laurent de Wilde que tomou a iniciativa de produzir e custear o catálogo distribuído pela Academia Imperial da Exposição Geral de Belas Artes de 1884. Além de listar as obras nela expostas, o catálogo era ilustrado, com esboços originais dos próprios artistas. Apenas 100 exemplares numerados foram produzidos. Um exemplar encontra-se na Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro e foi digitalizado  

A Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro guarda uma gravura do “Diploma concedido ao Sr. Laurent de Wilde em 12 de agosto de 1884” pelo Lyceo Litterario Portuguez, uma histórica instituição de ensino filantrópica, sem fins lucrativos, fundada em 1868 por imigrantes portugueses no Rio de Janeiro. 

O Museu Nacional de Belas Artes guarda duas cartas do Laurent De Wilde, uma com data 15 de janeiro de 1889 com a descriminação “Para a Academia de Bellas Artes a exposição artística” mencionando duas pinturas de França Junior e oito de H. Caron; e outra com data 23 de janeiro de 1890 com a descriminação “Entrego a Academia de Bellas Artes para a próxima exposição 3 quadros” de respetivamente J.B. Pagani, Estevão Silva e H. Caron. 

Marc Storms 

Fontes:

entre outras: http://www.dezenovevinte.net...