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Centro Comunitário e outros prédios em bambu

Sven Mouton, arquiteto belga, é o idealizador do projeto, localizado em Camburi na Serra do Mar (SP) onde diversos prédios comunitários, como o 'Centro Comunitário', foram construídos usando bambu em cooperação com os habitantes locais.

Sven Mouton Centro Comunitario Camburi Bambu

Sven Mouton e Hilde DuerinckDurante seu estudo de Mestrado em Arquitetura na Universidade de Hasselt (Bélgica), seu trabalho de tese envolveu um estudo da arquitetura vernácular da África do Sul. Depois fez um Mestrado em Urbanismo na Universidade de Gent com tese 'Recreation vs ecology in green urban areas' (2000). Em 2004, após trabalhando 4 anos numa empresa de engenharia, Sven e sua esposa, Hilde Duerinck, iniciaram um projeto de desenvolvimento em colaboração com a Universidade do Rio de Janeiro (PUC), que envolveu construções civis de baixo custo (edifícios e outros) em bambu e terra como materiais não convencionais (NOCMAT). Bambu é um material tão resistente quanto o aço, capaz de reduzir em mais de 30% o custo de uma obra, absorver CO2 e combater as mudanças climáticas. Para obtê-lo, não é preciso ir a nenhuma loja de materiais de construção. Só preciso plantar.

O projeto Bamboostic começou em 2004 em Camburi, um vilarejo remoto da cidade de Ubatuba, localizado entre São Paulo e Rio de Janeiro. Depois de viver juntos por um ano e realizar experimentos construtivos de bambu (uma ponte, loja, loja de gelo, ...), a confiança mútua entre si e nas técnicas foi grande o suficiente para iniciar um projeto em larga escala que os próprios moradores selecionaram. Devido à necessidade de um grande edifício comunitário para uma sala de aula extra, salas de reunião, salas de armazenamento e um estúdio, foi criada uma cooperativa de construção local (ecológica) para iniciar este estaleiro. Em um sistema de rotação, mais de 45 membros da cooperativa, não treinadas, tiveram a oportunidade de se transformar em trabalhadores da construção civil em todos os tipos de sistemas ecológicos durante os 8 meses de construção deste edifício.

Sven Mouton Padaria Camburi Bambu

Sven Mouton Padaria Camburi Bambu

Entrevistado para Época, ele conta que Camburi não foi escolhida de forma aleatória. À época, a região contava com poucas possibilidades financeiras que não envolvessem a agricultura. “Não tinha como sobreviver de maneira fácil fora dos bicos que eles faziam”, lembrou o arquiteto. Hoje, a atividade econômica de Camburi não se limita apenas à agricultura. Uma padaria-escola, uma cozinha comunitária e uma cooperativa são elementos que agora integram a paisagem da região. E tudo isso graças à utilização do bambu. “Depois de 14 anos, já mudou bastante a ideia que se tinha sobre o material. Hoje, eles o usam muito para fazer construções temporárias. Até na própria casa”, disse Mouton.

De acordo com Khosrow Ghavami, professor de engenharia civil da PUC-Rio, envolvido no projeto, o monopólio na construção civil faz com que alternativas como o bambu, sejam vistas com desconfiança. “Os países em desenvolvimento copiam os países industrializados. Há uma dependência industrial e, o que é pior, uma dependência de pensamento que não permite o nosso progresso.”

Em 2006, Sven e sua esposa retornaram à Bélgica, onde fundaram a empresa de arquitetura CRU! Arquitetos, que realiza projetos urbanos e arquitetônicos. Mas a organização, que Sven presidiu inda está ativa e todos os anos estudantes de tese são enviados para o projeto. E, na sua casa & escritorio na cidade de Gent, eles contruiram um Bed & Breakfast, usando bambu. Em 2015 voltaram com seus dois filhos para o Brasil. Moraram em Picinguaba (SP), um pequeno aldeio de 400 habitantes.

Fontes:

Fotos: Divulgação