Reforma do prédio e criação Belga Hotel

A menção mais antiga de um restaurante belga em território brasileiro é do final do Império. O Hotel Daury, dos irmãos belgas Leandre e Gustavo Daury, é mencionado a partir de 1884, quando ali nasceu o Clube de Corridas de Vila Isabel. Ficou na esquina da rua Mariz e Barros com a rua São Cristóvão, no Rio de Janeiro, então capital do País. Era um ponto de encontro de belgas. No local, em julho de 1890, um banquete marcou o 60° aniversário da independência belga, com brinde à pátria-mãe, ao rei e à família real, conforme registrou o Jornal do Commercio. Deve ter funcionado até o início do século XX.

Outra menção de um hotel belga no Rio foi encontrado no Almanak Laemmert. Uma senhora, de sobrenome Leclerc, figura como proprietária do Hotel Belgique, na rua das Laranjeiras, 47, no Flamengo. O hotel oferecia “grandes apartamentos confortáveis e arejados, para ‘família de tratamento’ e havia um grande jardim”. Hospedava, frequentemente, jogadores de futebol. Com grandes almoços e banquetes, no final de 1921, foram recepcionados os atletas do Paraná e São Paulo, que participavam dos preparativos dos jogos latino-americanos de 1922, por ocasião do centenário da independência do Brasil.

Depois um grande período sem presença belga no ramo hoteleiro na cidade Rio de Janeiro. Até um iniciativa de um grupo de investidores de Antuérpia junto com o futuro gerente geral do hotel, Mervyn Scheepers, original de Tongeren. Compravam um prédio histórico no centro de Rio na Rua dos Andrades, esquina com a Avenida Marechal Floriano e criaram a Belga Hotel. O edifício de 1927, tombado pelo Patrimônio Histórico de Rio de Janeiro, foi remodelado pelo arquiteto belga Dirk Engelen, que preservou o estilo art decó, unindo a um design moderno.

No lugar funciona também a Belga Brasserie que conta com muitos pratos belgas e, segundo seu gerente geral Mervyn Scheepers faz questão de manter a tradição, não apenas no cardápio, mas também na qualidade das cervejas, que, naturalmente, são servidas apenas nos seus copos específicos. O cardápio tem autoria do chef Alexandre Binard, nascido em Bruxelas, que estudou gastronomia e hotelaria no instituto Sint-Idesbald em Roeselare, na Bélgica. Depois de se casar com uma amazonense, mudou se para Manaus. Lá conquistou uma clientela fiel ao elaborar experiências gastronômicas em residências de clientes, como “chef em casa”. Comandado in loco pelo chef brasileiro Donaldo Peixoto, trouxe para o Rio de Janeiro o primeiro Festival Moules-Frites, uma das maiores tradições gastronômicas da Bélgica que já data de mais de 400 anos! Também, como na Bélgica, as porções são acompanhados de batatas fritas ou pão integral e, como não poderia faltar, a famosa maionese do chefe. Uma entrevista com Alexandre Binard é publicado no livro "Sabores belgas no Brasil".  

Mervyn Scheepers, criador da cerveja da brasserie, Donaldo Peixoto, Marc Storms, Mara Luz

Texto e fotos: Marc Storms, novembro de 2019