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Delpech, Adrien (1867 – 1942)
Nascido na Bélgica em 1867, Adrien Delpech fez seus estudos de todos os níveis em Paris. No ano de 1825, aos 25 anos de idade, chegou ao Brasil, onde se estabeleceu definitivamente. Jefferson da Costa Soares informa que encontrou indícios de que teria vindo para o Colégio Pedro II diretamente da Sorbonne, a pedido do então diretor Professor Carlos de Laet. Dr. Carlos de Laet (1847-1927), descendente da ilustre família de origens belgo-neerlandesas de Laet, escreveu cerca de 3000 artigos para inúmeros jornais, traduziu para o português a Rerum Novarum e foi feito Conde Romano pelo Papa. Também foi membro-fundador e presidente da Academia Brasileira de Letras, bem como professor e diretor do colégio Pedro II.
Radicado no Rio de Janeiro, Adrien Delpech se naturalizou brasileiro. Se casou com Clotilde Waguelin, de origem franco-suíça, com quem teve cinco filhos.
Foi professor de diversos estabelecimentos renomados do Rio, incluindo o Ginásio Nacional que, após o início da república, recebeu novamente o nome de Colégio Pedro II, em homenagem ao imperador. Tornou-se, então, o primeiro professor de Sociologia do Colégio Pedro II e, antes de se tornar catedrático interino, Delpech foi professor substituto de francês escolhido pela Congregação. Regeu interinamente a cadeira de Francês do Internato nos anos de 1915, 1916 e em alguns meses no ano de 1917 além de ter sido colaborador em vários periódicos brasileiros como “O País”, “O Jornal” e o “Jornal do Comércio”. Quando a Sociologia foi incluída nos currículos do cuso secundário do Colégio Pedro II, Delpech já possuía cerca de 9 anos de serviços prestados à referida instituição. Adrien Delpech foi o único dos professores substitutos que com a Reforma Rocha Vaz, não teve acesso à posição de catedrático. Entretanto passa a ocupar interinamente a cátedra recém-criada de Sociologia. Somente em 1927, torna-se catedrático de Francês e em 1928 transfere-se para a cátedra de Literatura.
Na condição de primeiro professor de sociologia do Colégio Pedro II, Adrien Delpech foi, provavelmente, o responsável pelo programa que abriu o ensino da disciplina, aprovado em reunião da congregação em 29 de abril de 1926
Adrien Delpech participou ativamente da vida intelectual do Rio nas primeiras décadas do século XX além de ser um entusiasta das obras do francês Jean-Baptiste Debret.
Na literatura sua trajetória é reconhecida internacionalmente, pois, além do ensino de francês e sociologia, dedicou alguns estudos aos poetas românticos e parnasianos. Delpech foi próximo de autores como Raimundo Corrêa, Alberto de Oliveira e Olavo Bilac e escreveu romances no Brasil, sobre o Brasil, em língua francesa. Contudo, Adrien Delpech é reconhecido principalmente por ter sido o primeiro tradutor de Machado de Assis para a língua francesa. Possui várias publicações, entre eles, Roman brésilien, moeurs exotiques (1904), Petrópolis, pages exotiques (1909) e L’Idole (1930). Sobre l'Idole, seu terceiro romance, o jornalista da Correio da Manhã, do dia 1 de junho de 1930, comentou: "Ninguém diria que o Rio colonial, contemporâneo de D. João VI, pudesse servir de cenário para um romance que participa do gênero historio sendo a um tempo psicológico. ... Toda a obra é cheia de um romantismo encantador; nos personagens, na descrição das paisagens, dos caráteres, em tudo."
No dia 03 de abril de 1909 acontece, na Sorbonne, um evento para homenagear a intelectualidade brasileira e Machado de Assis, passado um ano de seu falecimento. Esse evento despertou o interesse no autor brasileiro e, com Adrien Delpech, temos as primeiras obras machadianas traduzidas para o francês: Quelques contes [Várias histórias] publicada em 1910, seguida, no ano seguinte, pela tradução Mémoires Posthúmes de Bras Cubas, na qual parece revelar um acentuado grau de consciência da atividade tradutora. A tradução dos contos aparece a partir de dezembro de 1910 e durante todo o ano de 1911, na revista Courrier du Brésil. As traduções de Adrien Delpech foram as únicas obras integrais de Machado publicadas na França até 1914.
Destas duas traduções, a única que apresenta um paratexto do tradutor é Quelques Contes. Em seu prefácio, Delpech apresenta suas idéias sobre a atividade tradutória da obra e afirma, por exemplo, ao citar Anatole France que “Existem, talvez, belas traduções, mas nenhuma é fiel”.
No dia 20 de janeiro de 1929, Delpech é recebido como novo membro da antiga Associação de Ciências e Letras, fundada em 1922 e que, futuramente, se tornaria a Academia Petropolitana de Letras. Sob os auspícios de Alcindo Azevedo Sodré, médico, escritor e político, e também redator do “Jornal de Petrópolis”, Delpech é saudado em sua cerimônia de recepção como “uma das mais brilhantes mentalidades que se encontram em Petrópolis”.
Faleceu no Rio de Janeiro no dia 23 de maio de 1942 onde foi sepultado no cemitério São João Batista.
Fontes:
Dicionário de Tradutores Literários no Brasil (DITRA)