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Lumay Francisco (1848 – 1911)

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O belga Francisco (François) Lumay se naturalizou brasileiro em 1878. No seu dossiê guardado no Arquivo Nacional consta que ele era Bacharel em Sciencias Physicas e Naturais, natural de Bélgica, casado com um filho de três anos, residente neste Império há mais de três anos. O ano e lugar de nascimento, e o nome da sua esposa e filho não são mencionados. O FamilySearch nos informa que ele faleceu em Rio de Janeiro, na Rua das Laranjeira 374, no dia 11 de fevereiro de 1911 com 63 anos. Assim podemos estimar seu ano de nascimento em 1848.

Seu nome aparece diversas vezes no Almanak Laemmert : Administrativo, Mercantil e Industrial (RJ): Madame de Lumay como professora de piano e canto, na rua dos Ourives 56 e 58 no Rio de Janeiro (mencionado em 1874 e 1875) e F. Lumay, no mesmo endereço, com profissão farmacêutico (mencionado em 1876).

O Almanak de 1880 apresenta a “Usina Barcellos”, propriedade da sociedade anônima Companhia Agrícola de Campos e S. João da Barra. A usina, inaugurado em 1878, está situada na margam do rio Paraíba. Uma via ferroviária de 10 km conecta diversos agricultores à usina, que possui 2 locomotivas, 2 carros de passageiros e 30 vagões. Ainda tem a seu serviço um vapor fluvial e 6 barcos. O seu diretor é o barão de Barcellos e Dr. Franciso Lumay é empregado como químico. Nos anos 1882 até 1885, Dr. Francisco Lumay, aparece como administrador do engenho. Falta informações sobre os anos seguintes.

Usina Barcellos

No Almanak de 1895, Francisco Lumay, com endereço rua Nova Ouvidor 19, é mencionado “como representante e procurador da S.A. dos Estabelecimentos Cail, com escritório de engenharia e de importação de materiais para as indústrias, caminhos de ferros, obras públicas e mais trabalhos de construção.” Esta empresa francesa produziu locomotivas, máquinas para a indústria do açúcar, viadutos e pontes metálicos, barcos e demais. No mesmo ano foi publicado na edição especial da Revue Commerciale Financière et Maritime (RJ) um anúncio confirmando essas informações.  “A companhia dedicava-se a serviços de engenharia e de importação de maquinário e realizou uma série operações pelo território brasileiro, como edificações, instalações de ferrovias, canalizações de rios, além de fornecer material industrial para o funcionamento para as fábricas, se constituindo como um grande agente da industrialização do Brasil pós-colonial” informe Rodrigo Pereira Pinheiro da Silva no seu TCC “A usina Pureza de açúcar e álcool de São Fidélis-RJ: a resistência do passado na era do petróleo” (UFF 2019) informando que “Francisco Lumay foi uma figura-chave na história da Usina Pureza, não só por ter realizado as operações para sua montagem, mas por ter se tornado proprietário da mesma alguns anos depois. Ele já havia sido diretor do Engenho Central de Barcelos anteriormente e fornecido maquinário para o Engenho de Central de Quissamã e acabou por adquirir a firma de Pureza após a liquidação da companhia em 1896, determinada justamente por conta de uma dívida com S.A. Cail. Em associação com Izidóro Pamplona, Lumay se tornou proprietário e diretor do Engenho Central da Pureza até sua morte.” O jornal O Fluminense (1900, ed. 09) menciona a visita feita pelo Ministro da Bélgica, Alberic de Fallon, às dependências do Engenho de Pureza no ano de 1900, organizada por F. Lumay.

Usina Pureza

Na Hemeroteca Digital Brasileira encontramos bastante artigos que mencionam nosso compatriota Lumay.

Na Academia das Sciencias Physicas Lumay apresentou em 1876 os resultados da análise que realizou de um minério de nickel e ferro, proveniente dos arredores de S. Francisco, SC. (Gazeta de Notícias, 11.09.1876).

Francisco Lumay e Joaquim Fernandes de Oliveira Mendes pedem licença na Câmara Municipal de Niterói para explorar minerais na cidade. (Diário do Rio de Janeiro, 04.01.1877)

Franz [sic] Lumay fiz parte da diretoria do Club Boyton, um club de nadadores na praia de Botafogo, junto com outras pessoas da classe alta do Rio de Janeiro, como o marquês do Herval e o barão da Penha.  (Gazeta de Notícias, 03.05.1877) O barão da Penha foi testemunho no dossiê de naturalização do Francisco.

Junto com Daniel Henninger, Francisco Lumay publicou um extenso artigo científico no Jornal do Comércio (RJ) de 04.05.1877 com título “Ao povo brasileiro: sobre a água mineral da Gamboa” explicando que a fonte da Gamboa abundante pode fornecer mais de 10.000 litros por dia.

O Revue Commerciale Financière et Maritime (RJ) (03.05.1890) menciona que o Ministério dos Trabalhos Públicos assinou um contrato entre Dr. Paulo Frontin e os senhores Duvivier & C., François Lumay e J. Cotta & C. para o fornecimento de equipamentos metálicos destinados às obras de canalização dos rios Xerém e Mantiqueiras.

Um anúncio na edição especial da Revue Commerciale Financière et Maritime (RJ) em 1895 mostra que F. Lumay era diretor representante da empresa Eux minérales gazeuses de Spontin (Belgique) no Brasil.

Spontin Lumay

F. Lumay era autor e requerente no Brasil de quatro patentes, todas no ramo da produção de açúcar

  • BR RJANRIO PI.0.0.3181 - novo sistema de concentração e desidratação de matérias de qualquer natureza e especialmente dos açúcares para a produção dos açúcares refinados
  • BR RJANRIO PI.0.0.3184 - processo de epuração e de descoloração dos líquidos açucarados no fabrico e principalmente na refinação dos açúcares
  • BR RJANRIO PI.0.0.3185 - aparelho e processo de concentração e de cozimento dos açúcares à baixa temperatura
  • BR RJANRIO PI.0.0.3186 - processo de afinação dos açúcares permitindo obter perfeitamente refinados os açúcares brutos sem operar a sua dissolução

Autor de três patentes

  • BR RJANRIO PI.0.0.2119 - processo de saneamento e conservação ao ar livre e à temperatura normal, aplicável a todas as matérias alimentícias frescas, animais e vegetais, e principalmente à carne fresca entregue diariamente ao consumo público
  • BR RJANRIO PI.0.0.6294 - divertimentos higiênicos denominados montanhas russas
  • BR RJANRIO PI.0.0.6962 - processo de conservar fresca a carne diariamente entregue ao consumo público

E também requerente de três patentes franceses

  • BR AN, RIO. PI 240 Descrição Sistema de obturação hermética dos canhões pela culatra
  • BR NA, RIO. PI 241 - reparo de canhão sobre estrado a eixo e com freio hidráulico
  • BR NA, RIO. PI 242 - sistema de canhões com reforços bicônicos (frettage biconique)

(fonte: https://www.gov.br/arquivonacional/...)

Encontramos também Joseph Lumay, com domicílio no Rio de Janeiro, autor da patente BR AN, RIO. PI 1071 de um “Aparelho combustor” que data da mesma época, 1892. O mesmo era diretor do Comptoir Belge, rua Primeiro de Março 54 no Rio de Janeiro, e representante de produtos metálicos, químicos, cerâmicas, vidros, papel, material ferroviário... como demonstram diversos anúncios na Revue Commerciale Financière et Maritime (RJ), entre outros no ano de 1888. O Comptoir Belge era uma agência industrial e comercial representando diversas sociedades belgas de metalurgia, de construções mecânicas e de exploração de importantes minas de carvão de pedra. (Diário de Notícias, 30.10.1885)

Comptoir Belge

Joseph era irmão de François. Tiveram em 1891 seus endereços comerciais na mesma rua Primeiro de Março 54 no Rio de Janeiro. Os dois eram sócios do Clube de Engenharia (RJ) com ocupação “industrial” e o mesmo ano de admissão 1886. Segundo Eddy Stols, Joseph era um exmilitar do Institut Cartographique, que vem abrir em 1885 seu Comptoir Belge como representante de grandes fábricas metalúrgicas, como a Vieille-Montagne, com comissões de 1% ou 2% ... o ministro residente belga, de Grelle-Rogier, descreve Lumay como um soldado de infantaria, pertencendo à categoria dos caixairos-viajantes fanfarrões." (Benjamin Mary, p. 54)

O Almanak Laemmert menciona em diferentes edições entre 1904 e 1931 também o Dr. Gastão Lumay, engenheiro. Rodrigo Pereira Pinheiro da Silva confirma que ele é filho do Francisco e trabalhou na Usina Pureza. (p. 38) O Almanak de 1904 menciona “F. Lumay & Filho, exploração de fazendas agrícolas e industriais, rua Nova do Ouvidor 19 com sócios Francisco e Gastão Lumay.” Gastão é provavelmente o filho de três anos mencionado na carta do dossiê de naturalização do Francisco de 1877.

Pesquisa: Marc Storms, 24.06.2024