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Moreau, José Martinho (1857 - 1926)
O capítulo O sonho monástico de José Moreau em Tabatinguera (Cananeia) publicado no livro Brasil e Bélgica: Cinco Séculos de conexões e interações prof. E. Stols na p. 169-170 e a necrologia do Padre J. M. Moreau publicada no jornal A Federação: Orgam do Partido Republicano (RS) em 12 de maio de 1926, nos ajudam a escrever esse texto.
Nascido na província de Namur (falta detalhes sobre a data de seu nascimento), na Bélgica, J. M. Moreau fez seus estudos no Seminário de Floreffe. O arquivista do Seminário, F. Dawagne, confirmou que Joseph Moreau estudou lá entre 1871 e 1877. Era originário de Namur onde a sua família se mudou algumas vezes porque consta com três endereços diferentes: rue du Collège, rue Grandgagnage e rue Henry. Seu nome apareceu no livre "Distribuition des prix" em diferentes anos. Ele sempre foi bem classificado na seção de desenhar.
Depois de ordenado, J. M. Moreau matriculou-se na Universidade Gregoriana para os altos estudos teológicos. Deitado de grande talento, filosofo, poliglota, poeta e literato, estudioso e apaixonado pelas viagens, percorreu o padre quase todos os países do globo, como missioneiro ou turista.
Como Moreau não encontrou na Bélgica uma paróquia de renda suficiente para sustentar sua mãe e falhou na tentativa de fundar um convento no Congo, juntou-se ao abade beneditino belga Dom Gerardo Van Caloen, que no final de agosto de 1895 desembarcou em Recife liderando uma caravana de 17 monges, conversos e postulantes, além de do padre secular Van Emelen. A intenção de Moreau era se fazer beneditino no Brasil. Mais preocupado em resolver suas dívidas, deixou o noviciado e foi ganhar a vida como vigário de Iguape, no litoral paulista, um posto já ocupado pelo compatriota [Jean Baptista] Van Esse. Brigas com outros padres a respeito de emolumentos sobre batizados e casamentos e do roubo de uma imagem de São Miguel fizeram-no mudar para Porto alegre em 1897, onde serviu por vários anos na paróquia de Nossa Senhora dos Navegantes e reanimou sua famosa procissão fluvial. lá vieram também residir sua mãe e o irmão Adolphe, farmacêutico. No Porto Alegre (RS) foi também professor do Seminário e da Escola Brasileira onde lecionou as línguas modernas e a religião.
Transferiu sua residência para São Paulo, onde o antigo bispo de Pelotas o aproveitou para dirigir uma das paróquias de Campinas onde faleceu no Hospital da Misericórdia quase septuagenário.
Nossa pesquisa revelou também que o Almanak Laemmert dos anos 1909, 10 e 11 mencionam José Martinho Moreau como fazendeiro em Cananeia, Estado de São Paulo. Tal fazenda era a de Tabatinguará, em Cananeia, uma área de 709 alqueires ou 2.420 hectares, que Moreau comprou, ‘com um fim humanitário’, de Maria Isabel Camargo em 3 de julho de 1897, sendo vigário em Iguape. E provavelmente no mesmo lugar, onde Moreau tentou a realizar a primeira fundação Cisterciense da Comum Observância. Sua oferta ao abade Van Caloen, em 1899, para estabelecer uma comunidade ‘num lugar mais sadio que o Ceará’ foi descartada, mas logo pensou nos monges olivetanos ou trapistas. Em 1903 ele ofereceu a propriedade a Dom Chautard, que estava procurando para onde transferir seus monges da abadia trapista de Sept-Fons (França), ameaçados de expulsão pela Loi Combes. Depois da inspeção do terreno, Dom Chautard concluiu que o lugar não era conveniente e isolado demais.
Em 1909, Moreau voltou a procurar imigrantes belgas, mas sem a confiança do cônsul de São Paulo, Robyns de Schneidauer, que o conheceu nesse mesmo ano em Porto alegre, ‘possuído pelo espírito mercantil’. Pouco depois, foi à Bélgica buscar a filha do irmão, que agora atuava co mo médico e farmacêutico em Garibaldi (RS).
Em 1911 Moreau foi recebida em audiência privada pela rainha da Bélgica no palácio em Laken. Logo depois foi enviado como missionário para Katanga na então colônia belga Congo. (O Dia: Orgão do Partido Republicano Catharinense, 1911, edição 04881).
O Correio Paulistano de 1914 informou que um requerimento do revmo. padre dr. José Martinho Moreau não pode ser atendido. O padre solicitou a concessão gratuita de uma área de 6 a 10 quilômetros no lugar Faxinal, a fim de ampliar a zona da colonização do seu titio Tabatinguera, em Cananéia.
No início da Primeira guerra Mundial, Moreau reapareceu como vigário em Bananal (SP), procurando dinheiro e subsídios para buscar órfãos e agricultores na Bélgica, França e Inglaterra. Neste sentido pressionou, em carta de 27 de outubro de 1914, o ministro belga das colônias, que conhecia de Elisabethville, com uma proposta sobre Tabatinguera, mas este a julgou pouco séria. O Jornal do Commercio (RJ) informou na edição 37 do ano 1915 que o padre Moreau, vigário de Bananal, via fundar um orfanato, destinado a crianças belgas, filhos dos soldados mortos em batalha.
Anos mais tarde, em 1919, o belga Paulo Burlandy obteve por intermédio de padre trapista belga Moreau, um terreno para culturas, distante 4 horas de canoa de Cananéia, informou o jornal Correio Paulistano de 23 de agosto de 1922. O professor Eddy Stols escreveu que trata-se da fazenda abandonada e repassada por um padre-aventureiro belga, Moreau, por meio da Associação Comercial Belga-Sul-Americana de Alvizio de Magalhães. O jornal Correio Paulistano de 21 de dezembro de 1919 reportou que “Na próxima segunda feira devem embarcar neste porto [Santos] para a antiga colônia de Cananéia, 103 colonos, filhos do rei Alberto I, que se encontram na hospedaria de imigrantes da capital. Esses colonos seguirão acompanhados pelo sr. M. Burlandy, representante de um sindicato de colonização belga.” Infelizmente, a tentativa de fundar uma colônia em Cananeia fracassou e em 1920 os belgas já sairam para voltar para São Paulo.
Marc Storms, 27 de fevereiro de 2025, revisado 17 de abril de 2025
Fontes:
Além das fontes mencionadas na introdução:
ENTREPRENEURS BELGES ET LUXEMBOURGEOISES DANS LA MODERNISATION ET L’INDUSTRIALISATION DU BRESIL (1830-1940) EDDY STOLS p. 30
Tese de doutorado de José Pereira da Silva “Trapistas no Brasil” (2014, USP). p. 126-127