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Van Cutsem, Marcel (1909 – 1973)
Thiago da Costa nos informou sobre a existência do padre jesuíta Marcel Cutsem, originário da Bélgica, e pediu ajuda em obter maiores informações. Juntos descobrimos o seguinte e convidamos nossos leitores para acrescentar informações.
Marcel van Cutsem nasceu no dia 28 de abril de 1909 em Antuérpia, Bélgica. Seu pai era Ernest van Cutsem e sua mãe Juliette Merlin. Na sua ficha consular para imigrar no Brasil, datada 10 de junho de 1954, e emitida pelo Consulado Geral do Brasil em Antuérpia consta como residência Antuérpia e profissão padre S.J. Consta também que seu passaporte foi expedido pela Embaixada da Bélgica em Viena (Áustria). Embarcou no dia 6 de julho de 1954 com o Louis Lumière.
No Registro de Estrangeiros de 28 de julho de 1954 consta que ele reside na Praça João Mendes, Igreja São Gonçalo - igreja administrada desde o final do século XIX pelos jesuítas - São Paulo. Já em 23 de março de.1955 se mudou para a rua Bom Pastor 654 e em 26 de novembro de 1955 deixou a vida religiosa. Em 7 de março de 1961 mudou-se para a rua Marques de Itu 80.
Ainda sabemos pouco sobre a atuação de Marcel Van Cutsem e nada sobre a razão da sua imigração para o Brasil. Foi honrado com a rua Padre Marcel Cutsem no bairro Parque Tomas Saraiva, subprefeitura Vila Prudente em São Paulo, capital. O site Dicionário de ruas da Prefeitura de São Paulo informa:
O padre Marcel Ernest Van Cutsem, nasceu em 1909, em Antuérpia - Bélgica. Bacharelou-se em Filosofia e Letras, pelas Faculdade Santo Alberto de Egemhover Louvain - Bélgica. Mestre em Teologia pela Faculdade São João Berchman de Louvain. Diplomado pelo Instituto de Estudos Históricos de Bruxelas, o padre Marcel Cutsem foi autor de trabalhos de historiografia e filologia, especialmente sobre a história e a Cultura do Império Bizantino, vários deles premiados pela Academia de Bruxelas. Recebeu a medalha de ouro, conferida pela Casa Imperial da Bélgica, oferecida a pessoas que mais se destacam em estudos universitários. Durante a segunda guerra mundial, colaborou pela Companhia de Jesus, nos trabalhos de imigração e repatriação. Após a guerra, transferiu-se para o Brasil, onde uma poliomielite o afastou do serviço religioso. Parcialmente recuperado, passou a dedicar-se a traduções em nove idiomas. Faleceu em São Paulo - Capital, em 17 de abril de 1973.
Infelizmente há algumas informações equivocadas no texto. Não existe uma Faculdade Santo Alberto de Egemhover Louvain. É provavelmente Faculteit van Wijsbegeerte en Letteren / Faculté de philosophie et Lettres (a faculdade de Filosofia e Letras) da Universidade Católica de Leuven (Louvain). E é também desconhecida "a medalha de ouro, conferida pela Casa Imperial da Bélgica". E a data de falecimento no certidão de óbito é 9 de abril de 1973. No certidão consta que era casado com Helene Hoven e tinha duas filhas Michaela e Rosemarie.
Ele escreveu em 1934 o artigo “Une lettre inédite du P. Gazet sur la catacombe de Saint-Hermès”, (Analecta Bollandiana, LII, 1934, pp. 334-342). O falecido jornalista e filosofo Olavo de Carvalho mencionou Marcel van Cutsem, filólogo e erudito belga, residente em São Paulo, sob cuja orientação estudou línguas e literatura".
O site da Central Intelligence Agency guarda um documento sobre ele, datada 23.12.1952.
Father Marcel van Cutsem springs from a Belgian aristocrat family and is 42 years old. He joined the Jesuits and became a priest and as such received an assignment to the Vatican Congregation for Eastern Churches during World War II. During such work which he performed mostly in Rome, he came into contact with anti-German Russian circles whom he assisted through underground work. In 1945, Cardinal Tisserant gave him an assignment as his representative first in het British Zone and lateron in all Austria and Germany, whereby he represents the above Congregation in this area.
em livre tradução:
O padre Marcel van Cutsem vem de uma família aristocrata belga e tem 42 anos. Ele se juntou aos jesuítas e tornou-se sacerdote e, como tal, foi designado para a Congregação do Vaticano para as Igrejas Orientais durante a Segunda Guerra Mundial. Durante o trabalho que realizou principalmente em Roma, ele entrou em contato com círculos russos anti-alemães, a quem ajudou através de trabalhos clandestinos. Em 1945, o Cardeal Tisserant deu-lhe a missão de ser seu representante, primeiro na Zona Britânica e depois em toda a Áustria e Alemanha, representando a Congregação acima nesta área.
Sabemos também que ele trabalhou na época desde Salzburg, Áustria. É bem provável que ele conheceu lá Helene Hoven, austríaca, nascida em S. Petersburg, Rússia, no 1 de novembro de 1915. Helene embarcou no mesmo navio Louis Lumière com qual o Marcel van Cutsem travessou em 1954 o oceano. Ela, divorciada, tinha dois filhos do seu primeiro casamento,Friederich Georg e Susan Wiedersperger, e a filha Michaela de um ano e meio. Viajaram com ela para o Brasil, desembarcaram em Santos no mesmo dia e foram residir à Praça João Mendes, São Paulo, a mesma praça onde residiu Marcel. Na sua ficha DOPS da Michaela Marcel Margaret Van Cutsem de 1974 consta que nasceu em 30 de novembro de 1952 com dupla nacionalidade austríaca e belga e que seu pai era Marcel Van Cutsem e a mãe Helene Hoven. Marcel e Helene se casaram no dia 28 de abril de 1956 em São Paulo. No certidão de casamento consta que os dois tinham como profissão "comerciante" e residentes do subdistrito Ibirapuera.
Como observou Thiago: "um detalhe interessante é que todos eles inclusive a mãe Helene e o Padre Marcel Van Cutsem, colocam um mesmo prédio, com diferentes apartamentos, ao longo dos anos, em São Paulo em algumas documentações como seus respectivos endereços, que é Rua Cesário Mota Jr., Apartamento 3. ou 301 ou 104. Ao que me parece, eles moraram um tempo todos juntos, Padre Marcel, Helene e os 4 filhos."
Thiago conseguiu entrar em contato com a filha Rosemarie que enviou o artigo de jornal Folha da Noite de setembro de 1957 sobre Marcel Van Cutsem que dá algumas novas informações sobre Marcel e como ele vivia três anos depois de sua chegada ao Brasil (situação difícil). O titulo menciona que Marcel falava nove línguas. São português, francês, inglês, italiano, russo, alemão, holandês, grego e latim. Obteve um bacharel em Letras e Filosofia e era formado pelo Instituto de Estudos Históricos de Bruxelas. O repórter lhe pediu como aprendeu tantos linguais. Marcel respondeu que na Bélgica, na escola e em família, fala-se o francês e o holandês. O grego e o latim, aprendeu no colégio. Estudou russo para poder ler os melhores autores sobre a historia do Império de Bizâncio, para seu tese no Instituo de Estudos Históricos. Aprendeu inglês durante os cinco anos que passou na Inglaterra, aperfeiçou o francês vivendo na França e na Suíça. Durante a Segunda Guerra Mundial trabalhou na Alemanha e na Italia aprendendo os seus idiomas, e melhorando seu conhecimento de russo, em contato com os soldados sovieticos que ocuparam parte de Alemanha. A sua esposa também possui conhecimentos de russo, inglês, francês, alemão e português.
Fazia traduções para sobreviver, que teve um problema de pólio e ficou paralítico um tempo e com muitas dificuldades de locomoção. E que, em geral, tinha uma vida sofrida, com dificuldade até mesmo de obter dicionários para seus trabalhos de tradução. O jornalista ainda acrescentou que a "colônia belga de São Paulo" o ajudava financeiramente. Era provavelmente a Associação Beneficiente Belgo-Luxemburguesa e Brasileira de São Paulo.
Rosemarie informou que o irmão mais novo de Marcel, Alberic, tinha vocação para o sacerdócio, permanecendo um jesuíta até o final da longa vida (1911 - 2011), contrário do Marcel que foi "direcionado" pelos pais para entrar no sacerdócio pois era o filho mais velho. Um fato curioso é que em 1960 Alberic publicou o livro "Le mariage est un piege de la nature" (O casamento é uma armadilha da natureza). Um Im Memoriam sobre Alberic Van Cutsem foi publicado (em holandês) no site https://www.jezuieten.org/...
Texto: Marc Storms, 22 de janeiro de 2024 - modificado 5 de fevereiro de 2024