Você está aqui

Van Varemberg d’Egmont Florimond (1849 - 1930)

, Gent -
Social Media: 

Florimond Varenberg d’Egmont: agrônomo, empreiteiro e engenheiro de minas

Florimundus Eugenius Van Varenberg nasceu no dia 03 de fevereiro 1849 na cidade belga Gent. Seu pai, Levinius Joannes Van Varenbergh, tinha 37 anos e era empreiteiro de obras e sua mãe, Sophia Van den Abeele era dona de casa e tinha 41 anos. Na margem esquerda da sua certidão de nascimento está escrito, em holandês, "gehuwd te Gent, met Amanda Peeters, 9.X.1874", o que significa que ele casou-se com Amanda Peeters no dia 9 de outubro de 1874.

Uma descente da familia, Regina Van Varemberg d'Egmont nos informou recentemente, que Florimundus e Amanda tiveram dois filhos: Clementine e Joseph (José). Ainda não sabemos porque, na certidão do óbito de Florimundus de 30 de outubro de 1930, em São Paulo, só constam os nomes de 04 filhas: Maria, Anna, Izabel, Clementina. O documento também informa que, na época, ele já era viúvo de Amanda Peteers.

O detalhe que Florismundus era importador em Antuérpia no Jornal do Commercio (SC) de 6 de setembro de 1888 ajudou para resolver a questão da composição da sua família. Seu nome, da esposa e 5 filhos, aparecem no registro 1880-1890 da população de Antuérpia, com endereço Tolstraat 18. Eram Van Varenbergh Florimond (Gent, 1849), Peeters Amanda Alex (Gent, 1845), M[aria] Sophia Levina Jos[a] (Gent, 1876), Joseph Theodoor Maria Cornelis (Gent, 1877), Anna M[aria] (Gent, 1879), Elis[abeth] M[aria] Th[?] Charlotta Ghislena (Gent, 1881) e Clementina Ernestina Amma M[a] (Gent, 1883). O casal tinha outra filha, Agnes Catharina que só viveu algumas meses em 1880. A familia mudou de Gent, Vrijheid 31 e fizeram a inscrição em Antuérpia no dia 6 de maio de 1885. Consta também a anotação enigmática "Buenos Ayres, Amerika 20 M[aart] 1896.

Bevlokingsregister Antwerpen 1880-90 Tolstraat

Como informa a revista Lavoura e Commercio (SP) de 29 de julho de 1898, Florimundus formou-se em Agronomia pela Universidade de Gent (Bélgica). As datas da sua formação ainda são desconhecidas, devendo ser provavelmente nos anos de 1867 a 1871. Nessa época, estudaram bastante brasileiros na mesma universidade. No período de 1856 a 1914, foram 219 brasileiros, explica o professor belga da Universidade de Leuven, Eddy Stols, nos seus artigos "Les étudiants brésiliens en Belgique (1817-1914)" e "Latijns-Amerikaanse studenten aan de Rijksuniversiteit te Gent (1854-1914)". Houve até mesmo um clube de estudantes brasileiros em Gent nos anos de 1870. E bem provável, portanto, que Florimundus conheceu esses estudantes que o motivaram a migrar, com a sua família, ao Brasil.

As primeiras menções da presença do Florismundus van Varenberg no Brasil datam de 1888. O jornal Cidade do Rio de 22 de setembro de 1888 informa que o Ministério da Agricultura da época não havia aceitado o requerimento do Florismond van Varemberg e Emmanuel Annez pedindo isenção de direitos aduaneiros de todo o material necessário para uma usina para a manipulação de óleos vegetais. Segundo os jornais O Pharol (MG) e Jornal do Commercio (RJ) do mesmo dia e a Revista da engenharia, tratava-se de uma usina metalúrgica na província de Minas Gerais.

A Gazeta Paranaense do dia 30 de agosto de 1888, esclareceu que, na verdade, van Varenberg - escrito como Vasenberg - e Annez, mencionados como "Dois cidadãos belgas, ricos, inteligentes e honrados", requereram a isenção de direitos aduaneiros, para três empreendimentos: a instalação de uma grande usina de fósforos de segurança; uma usina para a fabricação de óleos vegetais e uma usina para a exploração metalúrgica de mineiros de ferro existentes nas proximidades da serra do Caraça ao sul da cidade de Ouro Preto na província de Minas Gerais.

O Jornal do Commercio (SC) de 6 de setembro de 1888 acrescenta que Emmanuel Annez era industrial em Malines e genro do sr. Van Wambeke, vice-presidente da Câmara dos Deputados na Bélgica e prefeito na cidade de Aalst. Florismundus era importador em Antuérpia.  

No ano seguinte, um outro requerimento de Florismundus foi também indeferido. O Jornal do Commercio (RJ) de 27 de agosto de 1889 menciona que O ministério da agricultura declarou ao presidente da província do Rio Grande do Sul que não pode ser aceita a proposta de Van Varenberg para, mediante a concessão gratuita de terras devolutas, estabelecer 25 famílias belgas na mesma província.

Projeto de colonização: nova Flandres intertropical

O mesmo jornal publicou, no mesmo ano, no dia 2 de março, um artigo extenso com o título "Projeto de colonização" :

No seu interessante relatório, ao qual tantas vezes temos feito referência, o Sr. Dr. Grelle°, ex-ministro de Bélgica no Brasil, tendo estudado conscienciosamente o problema da emigração belga para o Império, e verificado por si mesmo na província de S. Paulo a situação prospera de numerosos compatriotas, manifestou o seguinte voto: “Par bom êxito das empresas de colonização fora para desejar que, a exemplo dos Italianos, viessem para o Brasil, nossos compatriotas, não isoladamente e ao acaso, mas em número suficiente a constituir colônia de tal maneira agrupadas que, pela aglomeração mais ou menos considerável de [matrizes], tivessem de certo modo o ilusão da terra natal a 2.500 léguas de distância. Assim poderião fundar no Brazil, segundo a frase de S.M. o Imperador, nova Flandres intertropical.”

Estas palavras resumem o pensamento dominante de um folheto que em Verviers acaba de publicar o Sr. F. van Varenbergh, e no qual indica sumariamente os lineamentos gerais de uma empresa de colonização belga, que tomaria a si a criação de um núcleo colonial em cada uma das províncias de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Espirito Santo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, mediante concessão gratuita de bem escolhidas terras devolutas on cessão a preço mínimo de terrenos situados nas proximidades do litoral e das vias de comunicação. A empresa forneceria o capital e não constituiria proprietária das terras, antes de haver cumprido as cláusulas que aceitasse, entre a quais seria incluída a obrigação de revender lotes, a preço razoável, aos imigrantes que importasse. Os imigrantes solverião por anuidades, e em 12 anos, a sua dívida para com a empresa, gozando de abatimento no caso de se liberarem da mesma dívida em prazo curto. Dado que o governo do Brasil quisesse tomar a si a fundação e administração de uma colônia belga deste modelo, o Sr. F.  van Varenberg aceitaria de bom grado o encargo de dirigi-la.

O folheto intitula-se: “Le Brésil par raport à la colonisation belge» e manifesta viva simpatia pelo nosso país. O autor lamenta que a lei brasileira apenas tenha reservado para as regiões longínquas das fronteiras a faculdade dada o governo para conceder terras a título gratuito, invocando a este respeito o exemplo dos Estados Unidos e da República Argentina que grande vantagem tem colhido das concessões gratuitas de terras mediante clausulas impostas aos concessionários. E ponte que, a nosso ver, merecerá ser atentamente considerado na projetada e tão procrastinada reforma da nossa lei de terras.

° Edouard de Grelle-Rogier, Encarregado de Negócios da Bélgica no Brasil

A revista Lavoura e Commercio (SP) começou, no dia 29 de julho de 1898, a publicar uma série de artigos escrito por Dr. Varenberg d’Egmont, agrônomo diplomado pela Universidade de Gent e residente na capital São Paulo. A revista informou que os artigos, escritos em francês, seriam traduzidos pelo acadêmico Edmur de Souza Queiroz, escritos em linguagem clara e leve, sem espraiações inúteis e sem as dificuldades de terminologia científica, esses artigos devem agradar intensamente aos que se dedicam à lavra de terra. Será que o tradutor Edmur era parente de Francisco de Sousa Queiroz, nascido em 1850, que estudou, entre 1869 a 1872 e de 1874 a 1877, engenharia em Gent?

A mesma revista informou, no dia 18 de fevereiro de 1900, que foi aprovado o contrato com Van Varemberg d’Egmont para reparação do prédio em que funciona o grupo escolar de Sta. Ephigenia. Isso indica que o Florimundus, além da sua formação como agrônomo, trabalhou, assim como seu pai, como empreiteiro. Há outras evidências desse tipo de trabalho. O jornal Correio Paulistano informou no mesmo ano que Os srs. Tapajós, Maragliano & Cia., e os engenheiros Luiz Dulpy e Van Varemberg, vão depositar no Thesouro do Estado, a quantia de 3:000$000, como garantia da proposta que pretendem apresentar para a construção de uma cadeia em Itapira. E o mesmo jornal publicou, no dia 12 de fevereiro de 1903, que serão abertas amanhã a proposta de Monteiro & Pacheco, dr. Eduardo Gonçalves, Felix Bocchini e Florimond Van Varemberg, para o serviço de construção de novas latrinas no Mercado da rua Vinte e Cinco de Março.

Ele também trabalhou como engenheiro de minas. O jornal O Cachoeirano : Orgão do Povo - Columnas francas a todas as intelligencias (ES) publicou, no dia 25 de setembro de 1902, a primeira parte de uma trilogia sobre Mineração, relatório apresentado pelos engenheiros de minas Luiz Domingues e Fl. Von Varenberg D’Egmont ao sr. José Getulio Monteiro. O paulista José Getúlio Monteiro foi Secretário de Justiça no governo de Campos Salles e vereador por duas legislaturas, de 1902 a 1905 e de 1905 a 1908. Nesse período, atuou como presidente da Câmara Municipal de São Paulo por seis anos seguidos.

Para a sua trajetória, também é relevante a noticia publicado no Commercio de São Paulo (SP) de 14 de abril de 1905: Acaba de vender-se, no município de Santa Luzia do Rio das Velhas, a propriedade do illme. Sr. Conselheiro Pedro Horta, a qual contém ricas jazidas de ouro, e que foram exploradas há pouco tempo pelo conhecido engenheiro dr. Florismundo van Varenberg d’Egmont, o qual, pelos estudos e explorações que ai fez, encontrou ouro em diversas partes e quase todo de aluvião. Ao que consta, foi vendida a um sindicato belga. Infelizmente, ainda não encontramos maiores informações sobre a possível compra das jazidas pelo mencionado sindicato belga.

Seu sobrenome escrito como "Van Varenberg", com endereço II Rua Cons Saraiva, Sant Ana, aparece na lista "Belges notables résidant actuellement au Brésil", preparado pelo cônsul Robyns de Schneidauer na ocassão da visita dos Reis belgas ao Brasil em 1920.

Dos descendentes de Florismundus temos, até o momento, detalhes das vidas no Brasil de sua filha Marie e de seu neto Roland.

Marie van Varemberg d’Egmont, professora de francês de Tarsila do Amaral

A filha de Florismundus, a "belga Marie van Varemberg d’Egmont, que tinha vinte anos e morava na fazenda, ensinou-lhe [Tarsila do Amaral] a ler, escrever, bordar e falar francês. O pai de Tarsila a contratou para dar aulas a seus filhos, assim era o costume das pessoas ricas desse tempo" escreve So Ra Lim na sua tese de Doutorado em Literatura Comparada do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFRS (2005). Essa informação também consta no site Arte Ref Nascida em 1º de setembro de 1886, em Capivari, interior de São Paulo, Tarsila do Amaral era filha de José Estanislau do Amaral Filho e de Lídia Dias de Aguiar. Seu pai herdou fortuna e diversas fazendas, onde Tarsila e seus sete irmãos passaram a infância. Desde criança, fazia uso de produtos importados franceses. Sua primeira mestra, a belga Marie van Varemberg d’Egmont, ensinou-lhe a ler, escrever, bordar e falar francês. A curadora Margarida Sant'Anna da exposição Tarsila do Amaral: percurso afetivo (Banco do Brasil 2012) informa que, ela provavelmente iniciou seus estudos por volta de 1892: É alfabetizada em francês, tendo como preceptora a belga Mlle. Marie van Varembergh d’Egmont, de quem o pai de Tarsila havia comprado a fazenda. Essa informação ultima necessita de mais pesquisa, pois pareceria difícil que uma moça belga, de vinte anos, já tivesse vendido uma fazenda no interior do estado de São Paulo. Ou será que o seu pai, Florismond, teria sido o proprietário e vendedor?

Maria [Marie] van Varemberg d’Egmont, com lugar e data de nascimento, Gent, 1876, casou-se com o pintor André Figurey, natural de Lyon, França. Seria interessante saber se houve contatos entre Tarsila e André, e, se teria sido graças a Tarsila que Maria conheceu o seu futuro esposo. O Correio Paulistano de 24 de janeiro de 1903 informou que André Figuery, professor de pintura e desenho, "tendo o curso da Academia de Belas Artes de Paris", chegou em São Paulo e expõe três aquarelas na Casa Garraux. O casal continuou morando no Brasil e André viria a falecer no dia 8 de junho de 1929, em Barbacena, MG. Alguns dos seus quadros fazem parte do acervo do Museu do Ipiranga. O casal teve dois filhos: Pierre, artista-pintor, e Marie Louise, casada com o engenheiro dr. Louis do Marmels Ghisletti. (fonte: Correio Paulistano 15.06.1929).

Roland van Varemberg d’Egmont, presidente da Associação dos Empregados do Comercio de São Paulo

Roland van Varemberg d’Egmont, com lugar e data de nascimento desconhecidos, era neto de Florismundus. Ele foi, em 1936, eleito como vice-presidente da primeira Comissão Executiva do Sindicato União dos Comerciários de São Paulo (Fonte: Jornal do Brasil (RJ) 01.08.1936) No ano seguinte, em 1937, foi eleito presidente da Associação dos Empregados do Comercio de São Paulo. O jornal Correio de S. Paulo informou que Roland, além de ser elemento de destaque no seio da classe e no comércio em geral, dirigiu a associação durante a última gestão, criando em torno de seu nome grande círculo de amizade.