Você está aqui
Quem idealizou a colônia belga?
O personagem central da colonização belga em Santa Catarina é o belga Charles Maximilien Louis Van Lede (Bruges, 20/05/1801 – Bruges, 19/07/1875), para alguns, vilão, para outros, herói. Historiadores e pesquisadores ainda procuram por essa resposta
Nascido em 1801 na cidade de Bruges, na Bélgica, Van Lede estudou em Paris, na França, cumpriu serviço militar na Espanha e, em 1830, com a independência da Bélgica, retornou ao país para ser recrutado como oficial de engenharia. Enviado em missão militar ao México, Van Lede viajou pela América Latina como técnico em minas. Esteve na Argentina e depois no Chile, onde trabalhou como engenheiro de construção de pontes, estradas e portos.
No fim de 1841, já a serviço da Societé Commercial de Bruges e proprietário da Compagnie belge-brésilienne de Colonisation, Van Lede veio para o Brasil com a ideia de um grande projeto colonizador.
A sua missão era avaliar o solo e as florestas catarinenses para a exploração de ferro, carvão e outros minérios. Van Lede, o belga Joseph Philippe Fontaine, o geólogo francês Guilherme Bouliech, e o guia, o escrivão policial José Alves de Almeida, foram os primeiros a realizar uma viagem de cunho científico pela parte navegável do rio Itajaí-Açu. Van Lede desenhou um mapa detalhado da então província de Santa Catarina, parte da província de São Paulo e do Rio Grande do Sul e parte da república do Paraguai que, em 1842, foi impresso em Bruxelas.
Mappa chorographica da provincia de Stª. Catarina, parte da Pa. de São Paulo e da Pa. de Rio Grande do Sul e parte da república do Paraguay por Charles Maximilien Louis van Lede.
Imprenta: Bruxelas, Bélgica: J. Collon, [1842].
Capa do livro De la colonisation au Brésil de Charles Van Lede (1843).
Em 1843, publicou em Bruxelas um livro extenso de 427 páginas com título “De la colonisation au Brésil”, uma exposição sobre a situação favorável à emigração para o Brasil, especialmente para Santa Catarina. Em 10 de agosto de 1842, foi assinado um contrato provisório de colonização entre o Governo Imperial Brasileiro e a Companhia Belgo-Brasileira de colonização, que Van Lede representava, que nunca foi ratificado pelo Parlamento Brasileiro.
Em 6 de julho de 1844, após adaptações ao projeto e com dificuldades de obter terras – uma nova lei interditou a doação de terras públicas - Van Lede adquiriu, no Vale do Itajaí-Açu, uma área de 2.150 ha do Padre Rodrigues, no local chamado Prainha. A 21 de novembro de 1844, comprou outra área de 1.200 ha de Dona Rita Luisa Aranha e, em 2 de janeiro de 1845, terras do tenente coronel Henrique Flôres, uma área de 2.150 ha e uma floresta por desbravar, de 4.100 ha, que seria batizada como Ilhota. Van Lede obteve da Assembleia Geral Legislativa a isenção de direitos alfandegários para objetos trazidos pelos colonos belgas para o desenvolvimento da colônia.
O primeiro grupo de belgas chegou no fim de 1844. Van Lede permaneceu pouco tempo no Brasil. Retornou à Bélgica em outubro de 1845, deixando a colônia sob a direção de Joseph Philippe Fontaine, e nunca mais voltou. Na Bélgica, tentou sem sucesso ser eleito em 1848 para a Câmara belga, mas conseguiu um posto de conselheiro provincial de Flandres Ocidental para a região de Bruges pelo Partido Liberal. Esteve muito ativo como conselheiro, especialmente no assunto "Question des Flandres", um debate sobre soluções para a crise populacional e a pobreza. Em 1852, por causa da sua instabilidade política, foi chamado de traidor da causa liberal, e por isso não pode se candidatar mais.
Ele nunca se casou. Viveu na mesma casa que seu irmão Louis Auguste, com a cunhada Thérèse Donny e a sobrinha Clémence, na Kleine St.-Amandstraat 11, na cidade de Bruges. O registro de habitação de Bruges indica que era "proprietário". Tinha uma segunda residência em Bruxelas.
Casa da família Van Lede, Kleine St.-Amandstraat 11, Brugge.
© Fotografo: Marc Storms, 2021.
Van Lede faleceu em 1875, deixando suas casas em Bruxelas e suas terras no Brasil como doação à "Commissie van Burgerlijke Godshuizen" (CBG), uma instituição que cuidava dos pobres em sua cidade natal, Bruges. Seus herdeiros reclamaram a posse das terras brasileiras. O Cônsul da Bélgica em Desterro, atual Florianópolis, SC, Henry Schutel, também contribuiu para o conflito ao valer-se de uma procuração de Van Lede para negociar alguns terrenos. Após alguns conflitos, o Ministério da Bélgica pronunciou-se a favor dos colonos e a pendência foi encerrada.
A praça central de Ilhota homenageia esse importante personagem da colonização belga, com o nome de Praça Charles Maximiliano Louis Van Lede.
Lei de Incentivo à Cultura, apoio e patrocinadores
Apoio |
Patrocínio | Realização |
Agradecemos as empresas pelo patrocínio da exposição “A colônia belga e seus descendentes no Vale do Itajaí”, projeto aprovado pela Lei Rouanet.
O curador da exposição é Marc Storms, coordenador do "Patrimônio belga no Brasil". Ela foi elaborada com a Associação Ilha Belga e é apoiada pelo Embaixador da Bélgica, Sr. Patrick Herman, o Cônsul Geral da Bélgica para São Paulo e região Sul, Sr. Matthieu Branders, o Cônsul Sr. Thomas Maes e o Sr. Jeroen Servaes, Cônsul Honorário em Florianópolis (SC).
Os textos da exposição são de autoria de Marc Storms, a partir de pesquisas bibliográficas e iconográficas, que orientou a seleção das imagens e a concepção expográfica. Ana Starling da Bizu [estúdio e editora] desenvolveu o design gráfico da exposição. Sueli Ana dos Santos, presidente da Associação Ilha Belga, coordenou os vídeo-depoimentos que foram gravados e editados por Raul Neves e sua equipe da TV Gaspar. Daniel Hostins, vice-presidente da Associação Ilha Belga, coordenou as pesquisas em relação às árvores genealógicas. Alessandro de Oliveira Amadeu da CQS/FV Advodagos coordenou a assessoria e orientação em clearance jurídico. Rafael Aleixo cuidou da contabilidade.