Você está aqui
Estátuas da Bolsa de Café (Santos)
Guardiões da Torre
Ligado ao círculo artístico de Ramos de Azevedo, Adrien Henri Vital van Emelen (Leuven, Bélgica, 1868 / São Paulo, 1943) esculpiu, em massa fina cinza claro, as 4 estátuas de 4,50 ms de altura colocadas na torre do relógio do prédio da Bolsa do Café. As esculturas estão localizadas a mais de 40m de altura, voltadas aos pontos cardeais.
"Eles são quatro; não tem nomes, e os trapos que vestem não denotam sua origem ou ocupação, mas a mulher veio da lavoura e os três homens, um do comércio, outro da indústria e o último da navegação. Intertes, silencioses, olhares vagos, buscando o nada em direções diferentes, sem noção do tempo, estão se acabando, enquanto os passantes sequer tomam conhecimento de sua existência. A cena é comun, não só em Santos como em qualquer outra grande cidade, e, para completar, o refúgio que buscaram é praticamente inacessível, lá no alto." Marcio Ceva em Partidas Dobradas.
Para o engenheiro Ênio Padilha "Estes quatro grandes símbolos são muitas vezes confundidos com deuses da mitologia grega. Lá estão representados a agricultura, indústria, navegação e o comércio. Mas nenhum registro de fato comprova a relação entre os símbolos do Palácio e tais figuras mitológicas. Exceto na porta de entrada, onde as semelhanças não deixam dúvidas de que Mercúrio e Ceres foram nitidamente construídos nos moldes da mitologia romana. Seriam os personagens de uma fábula cafeeira ou, quem sabe, deuses de alguma mitologia desconhecida? Mas o que pode ser afirmado com certeza é que esses seres, santos, ídolos ou divindades durante muito tempo abençoaram nossos grãos, trazendo riqueza, prosperidade e desenvolvimento que transformou não só a cidade de Santos, mas produziu o grande fruto que resultou na quarta maior cidade do planeta, a metrópole paulista."
Provavelmente a ideía de representar trabalhadores foi influenciada pelas aulas que Adrien van Emelen teve do seu professor Constantin Meunier. O proprio Meunier foi um dos primeiros escultores belgas que representou trabalhadores. “O trabalhador fez a sua entrada na arte e foi reconhecida como igual aos deuses antigos.”
Meunier criou uma nova iconografia onde o trabalhador não é mais o prisioneiro da laboriosa tarefa que fez, mas gerado por esse trabalho e sublimada. Os críticos escrevem a pintura segura-se ao realismo social, enquanto a escultura abre o caminho para uma idealização ampliada do trabalhador. Pareceria que a expressão visual procurada poderia ser melhor alcançada através do volume do que através das duas dimensões da pintura.
Como Meunier, Adrien van Emelen registrou consistente e meticulosamente os instrumentos dos ofícios representados.
Operário - Agricultora
Operário - Agricultora
Navegante - Comerciante
Navegante - Comerciante
Navegante - Comerciante
No dia 5 de maio de 1922 o Dr. Roberto Simonsen, diretor da Companhia Construtora de Santos, escreveu para o Dr. Herculano de Freitas, Secretário de Fazenda e de Tesouro de Estado de São Paulo, a seguinte carta "contratamos com o conhecido esculptor Ad. Henri Van Emelen, de São Paulo, a execução das 4 figuras decorativas da torre, por vinte contos de reis." No relatório do andamento dos serviços do dia 5 de agusto de 1922 ele mencionou que os quatro genios já se acharam prontos e incluiu as fotos em preto e branco acima. As estátuas só iriam ser colocadas na torre em 1923. A sua construção não estava pronta no dia da inauguração 7 de setembro de 1922.
O Palacio da Bolsa do Café
A Bolsa de Café ou o Palácio da Bolsa Oficial do Café foi primeiramente instalada em um salão alugado no centro de Santos. Ela transferiu-se em 1922 para o palácio construído especialmente para suas atividades, que funcionou até fins da década de 1970 quando foi abandonado. Após um restauro realizada em 1998, o palácio foi reinaugurado como o Museu do Café.
A história da nova sede da Bolsa de Café traduz arquitetonicamente a construção simbólica do espaço a ser ocupado pelo café no Brasil e no exterior. A construção do palácio, uma obra da Companiha Construtora de Santos, de estilo eclético é considerada a mais importante obra do período. Estilo, volume, cúpulas de cobre, grandes esculturas, vitrais, mármores, o trabalho de artífices estrangeiros e obras de arte construíram o discurso que relacionava a elite cafeeira aos primeiros bandeirantes enquanto construtores pioneiros de uma nação capitaneada por São Paulo.
Hoje, como sede do Museu do Café, o palácio oferece ao grande público não só sua beleza e suntuosidade, mas a possibilidade de percorrer a história que construiu o café brasileiro como patrimônio nacional e internacional, da planta à xícara.
Fontes
- Revista do Café CCCRJ (março 2011, p. 15)
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Bolsa_Oficial_de_Caf%C3%A9
- Expansão urbana, café e imigração: a Companhia Construtora de Santos e a organização operária (1914 – 1930)
- Partidas dobradas: Crônicas da Bolsa de Café / Marcio E. Ceva. - São Paulo : M.A. Ceva, 1998.
- Arquivo da Bolsa
- Livro : Constantin Meunier 1831 - 1905 / red. Francisca Vandepitte. - Tielt : Lannoo, 2014. ISBN 9789401421997 - citação p. 128
Fotos (preto branco): Álbum da construção da Bolsa Oficial de Café graças à ajuda de Bruno Bortoloto do Carmo, Analista de Pesquisa, Museu do Café
Fotos (coloridas): Marc Storms, abril 2015