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Construção do prédio do antigo Conselho Deliberativo (Belo Horizonte)
Como construtor, estive sob a responsabilidade do belga Jean Marie Joseph Verdussen as obras do antigo Conselho Deliberativo.
O prédio teve a sua construção iniciada em 1911, visando à instalação de dois órgãos municipais: o Conselho Deliberativo e a Biblioteca Municipal. Naquele ano, o Poder Municipal liberou uma verba inicial de 100:000$000 para a execução das obras e a aquisição de mobiliário para o novo edifício. Sua planta foi assinada pelo arquiteto Isidro Monteiro. O empreendimento foi realizado pela empresa Prado Lopes, sob coordenação do engenheiro Agustinho Porto. A edificação foi definitivamente concluída em 1917, tendo custado à Prefeitura Municipal uma quantia superior a 350:000$000.
O novo edifício público alcançou grande projeção com marco arquitetônico da cidade, pelo fato de apresentar diversas inovações e particularidades. Dentre outras, podemos citar o fato de a sua torre ser a primeira construção toda em estrutura metálica de Belo Horizonte (recoberta de concreto), de o pé direito do andar superior ter 9,20 metros (o alto da cidade) de suas paredes de pedra, concreto e barro terram a espessura de um metro e de todas as suas vidraças coloridas serem de vidro belga. Será que foi o próprio Verdussen quem importou estes vidros?
O prédio é extremamente bem proporcionado existindo um equilibro entre cheios e vazios. A solução do encontro das duas alas na esquina, onde se localiza a porta de entrada e hall com escada monumental, sugere solução francesa.
A composição do corpo principal, ou o eixo de simetria dos dois volumes passando pela porta de entrada, coroada por torre com relógio e lanternim, segue a fórmula adotada na Europa para as construções civis, especialmente as de caráter publico-administrativo.
Em 1920, quando da visita à cidade do rei Alberto e da rainha Elizabeth da Bélgica, o prédio do Conselho Deliberativo teve as suas pinturas interna e externa refeitas, recebeu novas peças de mobiliário e de adornos e ampliou o seu sistema de iluminação.
Por Flávio de Lemos Carsalade em “Castelinho da Bahia: Um relicário arquitetônico” do Centro de Cultura Belo Horizonte/ Fundação Municipal de Cultura de 2010: "O imponente edifício do Conselho Deliberativo de Belo Horizonte dominava a paisagem urbana de seu entorno quando foi construído. Sua torre erguia-se como um marco vertical referenciando a nobreza do lugar. Esta era tão dominante que, quando da visita dos reis belgas a Belo Horizonte, em 1920, foi prevista a instalação de um elevador para que a realeza pudesse, de seu cume, ter uma visão panorâmica de nossa bela cidade. Infelizmente, as dimensões do elevador encomendado eram maiores que o espaço livre da estrutura metálica por onde ele deveria passar, fazendo com que nunca fosse instalado. Hoje o elevador mora nos jardins do Museu Histórico Abílio Barreto, sem jamais ter cumprido sua sina de subir e descer eternamente. Com o tempo, a torre que dominava a paisagem foi diminuindo de tamanho porque foram construídos prédios muito mais altos em volta."
O local serviu de ocupação à Câmara Municipal até 12/12/1973.
O edifício é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA- MG) e pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte e, desde 1997, no âmbito das comemorações do Centenário de Belo Horizonte, abriga o Centro de Cultura Belo Horizonte. Referência na paisagem de Belo Horizonte, considera-se princípio fundamental de todas as ações hoje desenvolvidas em suas dependências, a preservação dos seus elementos construtivos, bem como a divulgação deste bem cultural da cidade.
No prédio funciona hoje, o Centro de Referência da Moda que tem como um dos seus objetivos mobilizar o mundo da moda em BH.
Fontes:
- Prédio do Museu de Mineralogia Djalma Guimarães – Informe Histórico / Maria Inez Candido, historiadora, Superintendência de Proteção, Belo Horizonte, março de 1994.
- Laudo pericial arq. Marina Ewelin Wasner Machado, set. 1993
- Flávio de Lemos Carsalade “Castelinho da Bahia: Um relicário arquitetônico” do Centro de Cultura Belo Horizonte/ Fundação Municipal de Cultura de 2010
- Dicionário biográfico de construtores e artistas de Belo Horizonte ; 1894-1940 / Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais. – Belo Horizonte : IEPHA/MG, 1997. veja p. 236
- Planta - Centro de Referência da Moda, Belo Horizonte
- fotos coloridas: Marc Storms, julho de 2015