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Colonização belga em Pedra Lisa, Campos dos Goytacazes (RdJ)

A partir de 1843, começou na Bélgica, a fase da colonização guiada, segundo Corneel Milh. A rápida industrialização assegurou que as classes mais baixas da população sofreram de pobreza. O governo belga, procurando uma solução por este problema, incentivou iniciativas de colonização.

A primeira tentativa de colonização belga é em nome de Ludgero Joseph Nelis. Ludgero nasceu em uma família de comerciantes e pequenos industriais de linho em Zele, na Flandres Oriental. Em 1843 assinou com o presidente da província do Rio de Janeiro, Honório Hermeto Carneiro Leão, um contrato de concessão para Pedra Lisa, perto de Campos dos Goytacazes, onde deveria instalar colonos belgas para o cultivo do linho.

O belga Ludgero José Nelis tem empreendido estabelecer na Província do Rio De Janeiro uma pequena colônia de compatriotas seus, com o fim principal de se empregarem na cultura do linho, canamo, de plantas oleosas, e na criação de gado; devendo depois desenvolver a sua indústria em reduzir a manufaturas as matérias primas de sua cultura. Para o estabelecimento da colônia já o empresário obteve do Presidente da Província o necessário terreno, e o Governo Imperial se prestou a auxilia-lo em sua empresa pela maneira constante das condições aprovadas por Decreto de 6 de junho do ano passado.

Brasil. Ministério do Império. Ministro (Candido José de Araújo Vianna) Relatório do anno de 1841 apresentado á Assembleia Geral Legislativa na 1ª sessão da 5ª legislatura. Publicado em 1843. p. 35

Charles Joseph Nelis, irmão de Ludgero, foi responsável pelo recrutamento dos migrantes. Ele conseguiu reunir 110 jovens agricultores entre vinte e trinta e dois anos, 14 mulheres e 15 crianças entre as idades de doze e catorze. Após uma inspeção, pelo cônsul geral brasileiro em Bruxelas, José Antonio Rademaker, e o cônsul de Antuérpia, Van Baerle, de suas capacidades de trabalho e garantias de moralidade, foram assinados seus passaportes.

No dia 28 de dezembro de 1843 chegou no porto do Rio de Janeiro o barco "François Curieux" apos uma travessia de 56 dias. 56 singles, 9 casais, 6 jovens e 15 crianças, todos belgas, chefiados por um padre de Mons, haviam embarcado em Dunquerque (França). 99 pessoas entraram no Brasil. 8 morreram durante a viagem. Os colonos chegaram no local em 14 de fevereiro de 1844, onde deviam receber casas provisórias e alimentos até as primeiras colheitas. Infelizmente, encontravam novas autoridades sem o mesmo compromisso com a nova colônia. Desenganados e descontentes, a colônia começou a desmoronar. Uma dúzia de colonos se refugiaram no cônsul belga no Rio de Janeiro, que tentou colocá-los em outras colônias, enquanto a maioria retornou à Bélgica, relatando na imprensa seus dissabores.

Livro Da senzala à colônia

Fonte: Livro "Da senzala à colônia" (p. 158) por Emília Viotti da Costa

A notícia no Journal de Bruxeles de 3 de maio de 1844 ainda era muita otimista e menciona a chegada de 104 belgas. 

Journal de Bruxelles 3.5.1844 - 1

Journal de Bruxelles 3.5.1844 - 2

 

“Cento e quatro colonos belgas chegaram aqui há algum tempo, e se estabeleceram em Pedra-Liza, não muito longe da cidade de Campos. O senhor Louis Nelis, que se encarregou de estabelecer a primeira colônia, é desde 20 de outubro de 1842 em posse de meia légua quadrada de terreno, que a província lhe cedeu por uma pequena contribuição, diz-se que o governo também lhe dará gado, implementos agrícolas e todos os bens necessários aos colonos. a cidade de Campos oferece um excelente mercado, a apenas seis léguas da colônia, e ao qual se chega por via terrestre e fluvial, espera-se que este estabelecimento prospere. Fértil, felizmente situado, possuindo boa água, e sulcada por riachos aptos para movimentar máquinas de todo tipo, essa terra oferece todas as vantagens desejáveis ​​e, desde que os colonos tenham certeza de sua subsistência, poderão se dedicar ao cultivo de colza, linho, etc."

Segundo Eddy Stols, o próprio Nelis ficou no Brasil até 1847 quando retornou para Zele. Nossa pesquisa revelou que seu nome aparece no Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, entre os 1862 até 1868, na cidade do Rio de Janeiro como "Espingardeiro", situado na rua dos Ourives 112. Na mesma rubrica do Almanak está mencionado também o nome do belga Eduardo Pecher, representante de Dresse Ancion Laloux & Co., fabricantes de armas de guerra em Liège, Bélgica.

Ludgero Nelis Espingardeiro

Fontes:

  • Belgische emigratie naar de Republiek van Brazilië tussen 1889 en 1914 / Corneel Milh – Gent: UG, 2007.
  • Le Brésil, l'Europe et les équilibres internationaux, XVIe-XXe siècles / Kátia M. de Queirós Mattoso, Denis Rolland, Université de Paris IV: Paris-Sorbonne. Centre d'études sur le Brésil. Presses de l’Université de Paris-Sorbonne, 1999. – ISNB 2-84050-138-4. Veja p. 224.
  • Sainte-Cathérine du Brésil ou os belgas em Santa Catarina / Eddy Stols. p. 22-23 Em: Brasil e Bélgica: Cinco séculos de conexões e interações. – São Paulo: Narrativa Um, 2014.
  • noticias de Carlos Ficker, guardadas no arquivo histórico de Joinville.
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