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Fonte Dona Leopoldina - Parque das Águas (Caxambu)
A Fonte Dona Leopoldina foi captada em 1850. O prédio em que se encontra a fonte possui cúpula erguida por pilastras. Tanto o teto quanto as pilastras são decorados com pinturas. Arcos de ferro ligam as pilastras ao centro. Por ser todo aberto, tem-se acesso ao seu interior por qualquer um dos seis lados, descendo-se sete degraus. A Fonte Dona Leopoldina está protegida por uma grade de ferro. O chão é de cerâmica antiga e em estilo greco-romano. Padrões decorativos pintados ocorrem na parte inferior da cobertura do pavilhão, podem-se notar frisos ornamentais, e de arabescos de folhas e flores estilizadas e entrelaçadas em ferro.
A construção da fonte Dona Leopoldina dirige a atenção, porém, a uma fase mais tardia e a outros contextos do exotismo europeu. O projeto arquitetônico original é datado de 09.10.1912 com carimbo de “Societé Anonyme des Aciéries D’Angleur” de Tilleur – Belgique mostra a planta e a fachada do “Pavillon Leopoldina n.º 2” e está arquivado no IEPHA.
Hoje Tilleur é integrada na cidade de Liège.
Essa região, pelas suas minas e fundições, desempenhou papel de central importância na industrialização continental européia. A sociedade, fundada em 1871, experimentou extraordinário desenvolvimento sob a direção de Georges Nagelmaekers (1845-1905), intensificado com a fusão com o Sindicado alemão Deutsch-Oth (1882) e a aquisição da sociedade de altos fornos, usinas e oficinas de construção de Sclessin (1892).
Esse desenvolvimento econômico-industrial da região da Wallonie associou-se àquele do colonialismo belga, em particular no Congo, e que levou a uma intensificação do interesse por culturas extra-européias. Esse interesse manifestou-se sobretudo na internacionalidade das Exposições Mundiais (p.e. Bruxelas 1897, 1910), salientando-se aqui a Exposition Universelle et Internationale de Liège pelos 75 anos da independência da Bélgica, em 1905. Na arquitetura de balneários belgas, o uso de pavilhões de ferro tem um de seus principais exemplos na "Galeria Leopoldo II" em Spa, também marcado pela sua grande altura, verticalidade, leveza e esbeltas colunas.
Para além de produção industrializada de construções em ferro convencionais, exportadas para muitos países, a Bélgica distinguiu-se pelo papel que desempenhou na Belle Époque e como um dos principais centros do Art Nouveau, cumprindo lembrar, quanto à arquitetura as obras exponenciais de Victor Horta (1861-1947).
As construções de ferro do Parque das Águas de Caxambú chamam a atenção pela decoração com motivos vegetais de suas colunas e do teto. Aqui, como também nas cornucópias do vitral do palácio das termas, de 1912, pode-se ver a continuidade de antigas imagens relacionadas com a saúde e expressas na iconografia de Hygienia.
Motivos mais claramente denotadores de modernidade no contexto da Belle Époque podem ser encontrados no coreto, um dos mais relevantes exemplos do gênero no Brasil.
Os estudos culturais das relações entre a Bélgica e o Brasil salientam o significado da presença de brasileiros em Bruxelas pela passagem do século. Entre muitos outros, cumpre lembrar que ali atuou, como encarregado de Negócios, por ocasião da exposição de Liège, o diplomata Rafael de Mayrinck (1874-1931), sobrinho do Conselheiro Francisco de Paula Mayrink (1839-1907), responsável desde 1890 pela empresa de águas de Caxambu e hoje ali perpetuado na designação de uma fonte.
Escreveu Jason Barroso Santa Rosa, durante os anos de 1996 e 1997 arquiteto do IEPHA/MG responsável pelo trabalho de pesquisa e elaboração do processo técnico de tombamento que resultou na proteção:
"A crescente urbanização e a importação de costumes europeus evidenciaram uma mudança na vida brasileira, recém saída de uma realidade colonial, onde o convívio social ocorria geralmente por ocasião de eventos de caráter religioso. Nesta época, então, surgiram novos programas urbanos e se multiplicaram os espaços e serviços públicos, com abertura de praças, passeios e jardins públicos, proporcionando, assim, o embelezamento das cidades.
Os equipamentos públicos eram insuficientes para atender ao crescimento da demanda por modernização, e nesse sentido, a utilização do ferro importado passou a ser uma constante na construção do mobiliário urbano. Os governos municipais e estaduais estavam sempre envolvidos no patrocínio da importação desses produtos pré-fabricados em ferro.
Os pequenos pavilhões e coretos foram tão bem assimilados e tantos foram importados, que se constituíram nas peças mais populares e decorativas do mobiliário urbano.
Em Caxambu, estruturas semelhantes às dos coretos foram utilizadas para cobrirem as fontes públicas de águas minerais. Os coretos e pavilhões em ferro existentes no Parque das Águas e na Praça 16 de Setembro possuem partido quase circular, com planta e cobertura facetadas de forma octogonal. No caso dos pavilhões, como por exemplo, os das fontes Duque de Saxe e Beleza, os guarda-corpos, em ferro ornamentado, não foram colocados contornando as estruturas, como indicam os projetos originais dos mesmos, mas sim, guarnecendo internamente as bicas das fontes. De uma maneira geral, o ornamento nos coretos, aparecem de forma eclética e expressando todas as possibilidades decorativas do ferro fundido e forjado.
O coreto da Praça 16 de Setembro e o coreto e pavilhões das fontes D. Leopoldina, Duque de Saxe e Beleza do Conjunto Paisagístico e Arquitetônico do Parque das Águas formam um grupo representativo da arquitetura em ferro produzida no final do século XIX e início do século XX. A eficácia comprovada dessas estruturas, a durabilidade dos materiais empregados e, em alguns casos, as qualidades estéticas, justificam sua importância na evolução dos meios construtivos utilizados na arquitetura. Os exemplares aqui analisados integram não somente o patrimônio arquitetural da cidade, do estado ou do país, mas, dada a sua raridade, constituem parte da história própria da arquitetura universal, como remanescentes de uma arqueologia industrial. A preservação desse significativo acervo revela-se e impõe-se de maneira incontestável e imprescindível."
Infelizmente, como demostram as fotos, falta manutenção, por exemplo, nas pinturas das colunas e do teto.
Fotos: Marc Storms, janeiro 2015
Fontes:
- email de Jason Barroso Santa Rosa de 12 de julho de 2015
- http://revista.brasil-europa.eu/145/Vittel-Caxambu.html